terça-feira, 1 de dezembro de 2015

PARALELO

     Mary Trarbach

No catre imundo sob a marquise,
A pequerrucha dorme.
O frio corta impiedoso.
 E ela, em posição fetal,
Tenta aquecer-se.
Desejo de voltar à madre.
Enquanto sonha sorri...
Criança pobre também tem sonho bom!
Quarto decorado,
Abajur de cristal.
Brinquedos espalhados...
Lençóis brancos, perfumados.
A menina dorme e sorri.
Vidas paralelas, desiguais!
A pequerrucha desperta,
Procura o pão.
Um pobre coitado divide com ela
O que recebeu de algum irmão.
A menina asseada
Faz o seu desjejum.
Reclama do cardápio.
Vai pra escola aprender sua lição.
Paralelos da vida.
Tão desiguais!
Mocinha tão triste
Que olha as vitrines.
Em seus farrapos, sonha.
Alguém a expulsa,
Preconceito cruel!
A lágrima que rola,
Embaça seu olhar...
Ela também sonha.
Deseja, mas não tem...
A moça bonita e perfumada.
Pisa firme com salto alto.
Estilistas criam pra ela.
Olha a vitrine, mas não gosta do que vê,
Mas é recebida com honra,
A outra quer vender.
Vidas paralelas, desiguais!
Assim passa a vida,
Que o tempo consome,
Felicidade e tristeza,
Aconchego e abandono.
Fartura e fome.
O sol brilha,
A chuva cai.
Comemorações da vida.
Noites perdidas
Nos madrigais.
Vidas paralelas,
Tão desiguais!
Chega o epílogo.
É o ponto final.
A dama de preto,
Justa e implacável.
Mostra o que é real.
Ela não tem preconceitos,
Amamenta com seu fluido venenoso,
Os paralelos que no fim se fundem.
Daí: Vidas paralelas tão iguais.
©MaryTrarbach, 

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