sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

JÁ NÃO BRILHA O SOL DA LIBERDADE...

                                              Mary Trarbach.


Porque tantos soldados?
Tanta gente, confusão,
Será, meu Deus agora?
Uma nova revolução?

Calaram-se todas as bocas,
Ninguém pode mais falar...
Levaram o Seu Antero preso
Só por ele reclamar?

Coitada de D. Maria,
Que só sabe chorar...
Seu Antero foi levado
Para nunca mais voltar...

Soldados invadem a casa
Levando seu horror,
Vasculham todos os cantos e nada...
Mas deixam muita dor...

Dizem a boca miúda
Que o exército tomou o poder
Falam em ditadura,
Por que isso? Quero saber!

Jânio Quadros saiu, sua vassoura o varreu,
João Goulart tomou posse e o povo agradeceu,
Mas as forças armadas tomaram o poder
Exilado foi o homem, sem nada poder fazer...

Expulsar o filho da Nação?
Ainda sou criança, mas já posso entender...
Minha mãe diz pra eu ficar calada,
Senão também vão me prender.

Tem muita tristeza espalhada por aí,
Olhos tristes, rostos pálidos...
Lábios que já não conseguem sorrir
Povo amargurado tem que ficar calado.

O que pensam estes homens
Que tomaram o poder?
Não será usando a força
Que o povo irá obedecer...

Filhos órfãos, mães viúvas.
Gente expulsa do Brasil
O Sol da Liberdade já não brilha
Onde está a Paz do futuro? Partiu...

Tudo é proibido
Estamos em total escuridão
Temos que ter cuidado,
Guardar nossa opinião...

Ainda sou muito nova,
Mas quero participar da manifestação
Com os jovens estudantes, como eu,
Que defendem a liberdade da Nação...

Meus irmãos e minha mãe
Não me deixam sequer, ver,
Escondida, ouço o rádio,
Com medo que venham me surpreender.

Operários, artistas, estudantes e intelectuais,
Marcham pelas ruas defendendo seus ideais...
Militares incendeiam a sede estudantil,
Quanta violência! Militares vão pra puta que os pariu...

Tanques, tiros, cassetetes e bombas de efeitos morais...
Espalha a multidão como manada de animais...                                           
Um pobre rapaz que cai e não acorda mais...
Defendeu com o seu peito, a pátria, até a morte...

Só queremos um país justo com liberdade de expressão.
Cantar, atuar, ter paz no coração...
Queremos nossos compatriotas de volta
O maldito exílio é sem razão,

Sei que estes gritos
Calados em meu pequeno seio
Nunca poderei revelar
Eu ainda tenho receio...

Mas, quem sabe um dia:
“Se ergue a justiça a clava forte
Verão que um filho seu “não foge a luta”,
Mostrarei com minha arte o Brasil que quero...



 Outubro de 1964.
Este é mais um desabafo que terei que esconder. Quem sabe, um dia poderei mostrar? 
Estou cursando o ginasial, em dezembro farei 14 anos. 
Tomara que o Brasil volte ao normal e seja uma Nação de verdade. 
Só há verdade com liberdade. O medo induz à mentira em busca da defesa.
Meu nome é Laurimeri de Oliveira.

©MaryTrarbach

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